Percepções históricas e geográficas sobre o Ciame/Pindorama

A pedagoga Edna Vaz Sousa Moreira (FaE/UEMG) relata neste texto, suas percepções sobre a história, a memória e a paisagem em torno do Ciame/ Pindorama, situado em Belo Horizonte, na região noroeste.

As árvores que aparecem na imagem acima foram plantadas em 1994, época que frequentávamos meus irmãos e eu essa instituição .

O CIAME Pindorama (Centro de Atendimento à Criança e ao Adolescente), foi criado em Março de 1979, pertencendo à FEBEM, numa área cedida pela sociedade Eunice Weaver. Com a extinção da FEBEM em 1996, o CIAME foi então incorporado à SETASCAD (Secretaria Estadual do Trabalho, da assistência social, criança e adolescente), hoje, SEDESE.
Esta localizado na Rua Guararapes, 1810, no bairro Pindorama , na capital mineira. Até o ano de 1989 as atividades desenvolvidas no CIAME eram basicamente atividades sociais, sócio-recreativas, culturais e ocupacionais. Em 1990, com o estabelecimento do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), implantou-se naquela instituição o reforço escolar – de grande importância até hoje para as crianças e adolescentes. Em 1992, a direção do CIAME firmou parceria com a Prefeitura Municipal de BH, elaborando um programa de formação profissional através da Creche Comunitária Eunice Lanza,(creche conveniada com a PBH) ofertando cursos profissionalizantes para adolescentes acima de 16 anos (cabeleireiro, manicure, salgadeira e doceira). Em 2001 a instituição firma outra parceria com a PBH, no programa de Socialização Infanto-Juvenil através da Creche Eunice Lanza,para crianças de 6 à 14 anos, nas seguintes atividades: recreação, balé, ginástica rítmica, futebol e acompanhamento escolar .

Este espaço foi e continua sendo muito importante em minha vida pois cresci frequentando esse lugar. Hoje vejo o quão importante é o trabalho oferecido a população do meu bairro. Nessa instituição pude compreender a importância das pessoas valorizam sua cultura, respeitarem sua opinião e ainda aprender uma profissão. Como no filme  a Rainha do Katwe onde Fiona se inspira no xadrez para mudar sua realidade, essa instituição com todos os programas oferecidos, inclusive o futebol mudou totalmente minha vida para melhor. Em um contexto histórico essa instituição que mudou a minha vida ainda está mudando a vida de muita gente.

Percepções sobre a geografia e a história da cidade que eu habito

A pedagoga Eriene Alves de Oliveira (FaE/UEMG) elegeu a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha (Belo Horizonte) como seu lugar favorito na capital mineira, cuja percepção geográfica e histórica evoca memórias afetivas.

Foto da Igreja de São Francisco de Assis (foto: Gê Azevedo)

“Igrejinha da Pampulha” e um pouco da sua história

Inaugurada em 1943, a igreja de São Francisco de Assis, popularmente conhecida como Igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte, é considerada um marco na história da arquitetura brasileira e o primeiro trabalho de expressão do jovem arquiteto Oscar Niemeyer, que se tornou mundialmente famoso com as obras da construção de Brasília. Junto com a Casa do Baile, o Cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha) e o Iate Clube, a igreja compõe o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, todos concebidos por Niemeyer. As curvas distribuídas ao longo da igreja, fazem uma alusão às montanhas de Minas Gerais, o desenho da igreja traz uma sucessão de abóbadas (tetos arredondados): duas principais que cobrem a nave e o santuário, e três secundárias, que envolvem a sacristia e anexos. Na fachada principal, uma marquise reta conduz à torre que emerge na lateral. “Era um protesto que eu levava como arquiteto, de cobrir a igreja da Pampulha de curvas, das curvas mais variadas, essa intenção de contestar a arquitetura retilínea que então predominava”, explicou Niemeyer, anos mais tarde. A convite de Niemeyer, artistas importantes participaram da construção da igreja.

Cândido Portinari – O artista plástico é autor do painel externo em azulejo azul e branco, na fachada posterior da igreja, que retrata cenas da vida de são Francisco. Fez também o mural do altar principal e os 14 pequenos quadros que retratam a Via Sacra. Destaca-se o painel em cerâmica que reveste o púlpito, na parede exterior do batistério e no balcão.

Alfredo Ceschiatti – Autor dos painéis em bronze, esculpidos em baixo relevo, no interior do batistério, retratando a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Suas esculturas acompanham sempre os grandes trabalhos de Niemeyer e estão presentes no Palácio da Alvorada, na praça dos Três Poderes e na catedral, em Brasília.

Burle Marx – Os jardins da igreja são assinados pelo maior paisagista brasileiro, cujos trabalhos também podem ser vistos no Cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha) e na Casa do Baile. Nascido em São Paulo, em 1909, Burle Marx também foi desenhista, pintor e ceramista, entre outras atividades.

Paulo Werneck – Nas laterais da abóbada da nave, encontram-se os mosaicos em azul e branco do pintor, desenhista e ilustrador, que introduziu a técnica de mosaico no Brasil. Feitos em pastilhas, trazem desenho modernista típico da época.

Foto das obras da Igreja de São Francisco de Assis (foto: MHAB/divulgação)

Memórias Afetivas

Quando cheguei em Belo Horizonte, ainda muito nova, vinda de minha cidade de origem no leste de Minas, o primeiro lugar que meu irmão mais velho me levou para conhecer foi a “Igrejinha da Pampulha”. Tão pequenininha, tão charmosa, tão histórica, tão fofa e ao mesmo tempo tão bucólica! Pronto me conquistou no ato! A partir dali tornou-se meu pedaço favorito na imensa BH, lugar de reflexão, de buscas, de respirar, de acalmar o coração. Pois bem, vários conceitos dos trabalhados na disciplina de Geo/História, se encaixariam na escolha do meu registro, mas como conceito chave, opto pelo conceito de Memória, para ser mais específica, Memória Afetiva. O cheiro daquele lugar é inesquecível, o vento que toca lá parece de alguma forma diferente dos demais, a energia que de lá flui me impregna e recarrega minha alma.

Referências:

https://www.mg.gov.br/conteudo/conheca-minas/turismo/igreja-da-pampulha-sao-francisco-de-assis: acesso em 20/06/2019

https://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2013/10/31/noticia-e-mais,147983/pampulha-um-patrimonio-da-humanidade-reune-fotografias-historicas-d.shtml: acesso em 20/06/2019

Olhares tristes sobre a cidade

As pedagogas Daniele Fernandes e Lígia Tavares (FaE/UEMG) refletem sobre a percepção em torno do bairro Lagoinha, no centro da capital mineira e expressam a desolação do olhar sobre um problema urbano dos grandes centros: as chamadas cracolândias, espaços urbanos que são apropriados por dependentes químicos.

A paisagem pode ser alterada tanto pelos elementos naturais quanto pelos elementos humanizados. Os elementos naturais mudam a paisagem de acordo com o lugar e as condições climáticas.  E, os seres humanos modificam a natureza em busca de moradia, melhores condições de sobrevivência, conforto e segurança, transformando a paisagem com as suas características. As mudanças motivadas pela ocupação desordenada trazem consequências não só naturais, mas também podem causar danos à população local. Para este trabalho escolhemos para análise a “cracolândia” localizada no bairro Lagoinha, região Noroeste de Belo Horizonte. Um lugar triste, sombrio, frio, que causa angústia quando passamos por ele. Pessoas sem brilho no olhar, sem perspectiva, sem terem pra onde ir. Ninguém os percebem. Ninguém os enxerga como pessoas, mas sim como verdadeiros “zumbis”. O crack vem ganhando muitos adeptos, e em consequência vemos muitos dessas pessoas utilizando as ruas, praças, calçadas, viadutos por exemplo, para se drogarem. É sabido que leva tempo para minimizar, ao menos, essa problemática. Olhando um pouco mais à frente, avistamos uma igreja conhecida daquela redondeza. Podemos refletir sobre as diferenças que envolvem esses dois lugares.

As fotografias foram feitas pelas autoras, durante o trajeto cotidiano que percorrem na capital mineira. O objetivo principal desta atividade é que os estudantes ampliem e aprimorem o olhar para as questões sociais, urbanas e humanas que nos rodeiam.

Trilha urbana (poética): “A minha vida é esta, subir Bahia e descer Floresta.”

Esta trilha urbana foi elaborada pelas pedagogas Ana Carla Bianchini e Veryluci Cristine(FaE/UEMG/BH) e tem como proposta levar os alunos a conhecer os diversos espaços culturais  localizados na rua da Bahia e falar sobre a importância desta rua para a cidade de Belo Horizonte, rua esta que foi declamada em prosa e verso e despertava o interesse e atenção de boêmios, literários e artistas. Foram observados o Museu da Moda, o edifício Arcângelo Maleta, o Teatro da Cidade, a Academia Mineira de Letras, a Basílica Nossa Senhora de Lourdes, o Antigo Palacete Carlos Antonini, a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais e a praça que contém um monumento com a frase de Rômulo Paes, “A minha vida é esta, subir Bahia e descer Floresta.”

CONCEITO PRESENTE NO ENSINO DE HISTÓRIA E/OU GEOGRAFIA QUE MAIS APARECEU NESTA PROPOSTA: Referências culturais e lugares de memórias. Foram observados lugares que apresentam uma bagagem cultural e contribuíram na construção de sentidos de identidades de diversos indivíduos. A rua da Bahia tem um grande valor cultural e desde o início do século era referência de comércio, ponte de encontro da boemia e via de acesso à política da capital, pois ligava o centro ( área comercial) ao administrativo ( Praça da Liberdade).

PARA QUAL ANO/FAIXA DA EDUCAÇÃO BÁSICA ESSA PROPOSTA FOI PREFERENCIALMENTE MONTADA? 4º série do Ensino Fundamental.


Alinhando a proposta com a BNCC ( Ensino Fundamental)

QUAL OBJETO DE CONHECIMENTO DO CONTEÚDO DE GEOGRAFIA PODE SER ESTUDADO A PARTIR DESTA TRILHA? Território e diversidade cultural  
QUAL HABILIDADE PODE SER TRABALHADA NO ENSINO DE GEOGRAFIA?
  (EF04GE01) Selecionar, em seus lugares de vivência e em suas histórias familiares e/ou da comunidade, elementos de distintas culturas (indígenas, afro-brasileiras, de outras regiões do país, latino-americanas, europeias, asiáticas etc.), valorizando o que é próprio em cada uma delas e sua contribuição para a formação da cultura local, regional e brasileira.    
QUAL OBJETO DE CONHECIMENTO DO CONTEÚDO DE HISTÓRIA PODE SER ESTUDADO A PARTIR DESTA TRILHA? O passado e o presente: a noção de permanência e as lentas transformações sociais e culturais.  
QUAL HABILIDADE PODE SER TRABALHADA NO ENSINO DE GEOGRAFIA?
 (EF04HI03) Identificar as transformações ocorridas na cidade ao longo do tempo e discutir suas interferências nos modos de vida de seus habitantes, tomando como ponto de partida o presente.  

Histórias que meus pés contam

Este post inaugura uma série de propostas sobre trilhas urbanas, que podem ser feitas na cidade de Belo Horizonte, MG. A proposta de trabalho com a criação de “Trilhas Urbanas” envolve a elaboração de trajetos urbanos, a partir de um processo interdisciplinar que explora fatores ecológicos, sociais, históricos e geográficos . A primeira trilha proposta foi elaborada pela pedagoga Marina Freitas de Oliveira (FaE/UEMG/Campu BH). Confira esse roteiro pra lá de interessante.

PERCURSO QUE SERÁ EFETUADO NESTA TRILHA:

O percurso terá início no Museu da Moda localizado na Rua da Bahia, 1149, Centro de Belo Horizonte, cruzando a Rua da Bahia e seguindo a avenida Augusto de Lima, atravessando a rua Espírito Santo, depois a Rua Rio de Janeiro finalizando no cruzamento da Rua São Paulo  no nº474. Como pretende-se observar pontos de ambos lados da Av. Augusto de Lima, a trilha poderá feita à escolha do lado de preferência . A proposta é observar alguns pontos durante a trilha, tais como:

– Prédio Drogaria Araújo (Esquina Av. Augusto de Lima com Rua da Bahia) – Observar a estrutura física do prédio e preservação, instigar o por quê de sua preservação.

Foto: Marina O. Freitas

– Condomínio do Conjunto Arcângelo Maletta – Observar como um ponto de referência de sebos e gastronomia, e sua história.

– Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais – Prodemge – Observar a estrutura física do prédio, sua permanência e preservação, além da importância para o estado de Minas Gerais.

Mapa do percurso elaborado por Marina O. Freitas

– Sesc Palladium (Centro Cultural) – Observar importância cultural social e lazer.

– Museu da Moda (MUMO) – Observar a estrutura física do prédio e sua permanência e preservação (No interior do prédio instigar a relação das várias formas de roupa com a sociedade em que vivemos)

Pretende-se ainda, conhecer e promover a valorização das histórias do percurso escolhido. Pretende-se também refletir se o  percurso pode ser feito facilmente por pessoas com deficiência.


CONCEITOS TRABALHADOS NO ENSINO DE HISTÓRIA E/OU GEOGRAFIA :

A BNCC no ensino de História no Ensino Fundamental aponta como um objetivo importante é a estimulação da autonomia de pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com a época e o lugar nos quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus hábitos e condutas. Neste sentido, a ideia que se propôs por meio da observação de um percurso, motiva a aprendizagem utilizando-se de um lugar ‘improvável’, no centro de Belo Horizonte. Destaca-se a construção dos lugares de memória, e neste sentido Pierre Norra aponta que um dos tipos de memória que se configura, é aquela que é transformada por sua passagem em história. Outros conceitos foram apropriados nesta proposta. O conceito de tempo (temporalidades históricas/ antes e depois), conforme ressaltou Pinsky, precisa ser trabalhado de modo a levar o aluno a perceber as diversas temporalidades no decorrer da Historia e ter claro sua importância nas formas de organização social. Outro conceito que pode ser discutido nesta proposta é o de sujeito histórico, no sentido de compreender a inter-relação entre as pessoas e a sociedade, numa construção consciente e inconsciente de agente social, individual e coletivo. Além destes, apontamos cultura e cidadania; espaço geográfico (modificado pelo homem ao longo do tempo), e por fim o conceito de lugar (permeado por identidade dos grupos sociais e das pessoas, envolvendo sentimento de pertencimento).

No sentido da Geografia propõe-se o desenvolvimento de uma percepção cartográfica ampliada, além da orientação a partir dos pontos cardeais. A presença da analogia (identificação das semelhanças de fenômenos geográficos) será trabalhada a partir da análise das construções antigas presentes na trilha urbana, em comparação aos espaços mais novos — o que também possibilita o trabalho com o conceito de Conexão (onde um fenômeno geográfico nunca acontece isoladamente, mas sempre em interação com outros fenômenos próximos ou distantes). E, por fim o conceito de Localização é trabalhado por todo o percurso: faz-se necessário entender a posição particular de um objeto na superfície terrestre. Acredito que na observação interna do Mumo será possível compreender o conceito de Lazer e Trabalho, e neste sentido pensar sobre os espaços de trabalho e lazer na cidade; refletir sobre os aspectos históricos do trabalho; perceber que existem profissões relacionadas ao lazer; perceber mudanças ao longo do tempo, relacionadas ao mundo do trabalho.


Alinhando a proposta com a BNCC (Anos Iniciais do Ensino Fundamental)

PARA QUAL ANO/FAIXA DA EDUCAÇÃO BÁSICA ESSA PROPOSTA FOI PREFERENCIALMENTE ELABORADA? Para o Ensino Fundamental Anos iniciais, do primeiro ao quinto ano.    
QUAL OBJETO DE CONHECIMENTO DO CONTEÚDO DE GEOGRAFIA PODE SER ESTUDADO A PARTIR DESTA TRILHA?  
1º Ano – Situações de convívio em diferentes lugares / Pontos de referência (BNCC. p 371)
4º Ano – Sistema de orientação (BNCC. p 377)
5º Ano – Território, redes e urbanização (BNCC. p 379)  
QUAIS HABILIDADES PODEM SER TRABALHADAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA?  
(EF01GE03) Identificar e relatar semelhanças e diferenças de usos do espaço público (praças, parques) para o lazer e diferentes manifestações.  
(EF01GE09) Elaborar e utilizar mapas simples para localizar elementos do local de vivência, considerando referenciais espaciais (frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora) e tendo o corpo como referência;  
(EF04GE09) Utilizar as direções cardeais na localização de componentes físicos e humanos nas paisagens rurais e urbanas.  
(EF05GE03) Identificar as formas e funções das cidades e analisar as mudanças sociais, econômicas e ambientais provocadas pelo seu crescimento.  
QUAL OBJETO DE CONHECIMENTO DO CONTEÚDO DE HISTÓRIA PODE SER ESTUDADO A PARTIR DESTA TRILHA?  
3º Ano – Os patrimônios históricos e culturais da cidade e/ou do município em que vive. A produção dos marcos da memória: os lugares de memória (ruas, praças, escolas, monumentos, museus etc.) (BNCC. p 411)
4º Ano – O passado e o presente: a noção de permanência e as lentas transformações sociais e culturais (BNCC. p 413)  
QUAIS HABILIDADES PODEM SER TRABALHADAS NO ENSINO DE HISTORIA?    
(EF03HI04) Identificar os patrimônios históricos e culturais de sua cidade ou região e discutir as razões culturais, sociais e políticas para que assim sejam considerados.  
(EF03HI05) Identificar os marcos históricos do lugar em que se vive e compreender seus significados.   (EF03HI06) Identificar os registros de memória na cidade (nomes de ruas, monumentos, edifícios etc.), discutindo os critérios que explicam a escolha desses nomes.  
(EF04HI03) Identificar as transformações ocorridas na cidade ao longo do tempo e discutir suas interferências nos modos de vida de seus habitantes, tomando como ponto de partida o presente.  

Ampliando o olhar: O Museu de Artes e Ofícios (Belo Horizonte)

As pedagogas Solange Teles Souza de Jesus  e  Dayane Lemos Favato (FaE/UEMG/Campus BH) elaboraram uma dica de passeio cultural, gratuito e localizado bem no centro da Capital Mineira.

Foto de Andréia Bueno

Compreender a proposta de relembrar e perceber os caminhos, as mudanças ocorridas no percurso até o prédio da FaE/UEMG, no centro da capital mineira, foi uma experiência interessante. Com um novo olhar, percebemos que, na correria diária e com preocupações ou com a distração das telas dos celulares, não observamos ou admiramos determinados lugares como deveríamos. Através desta atividade, pudemos observar os detalhes e mudanças que acontecem ao longo dos períodos históricos, compreender a importância dos espaços públicos e adquirimos um olhar sensibilizado para com a cidade. Destacamos no nosso trajeto a observação da Praça da Estação, em Belo Horizonte — local pelo qual passamos todos os dias. Percebe-se que, muitas pessoas passam todos os dias por aquela praça, mas poucas têm a noção de nela há um espaço público e de acesso gratuito, para todos os moradores da cidade: o Museu de Artes e Ofícios.O espaço é uma oportunidade única de conhecer a história de Minas Gerais, a partir da perspectiva do trabalho e dos diferentes grupos sociais envolvidos nele. Conheça mais sobre o Museu, acessando o site: https://www.mao.org.br/.

Lugares de Memória: O trabalho com História, Geografia, Ciências e competências socioemocionais

A estudante Maria Antônia Martins Abdala do curso de pedagogia (UEMG/FaE, campus BH) formulou como trabalho final da disciplina GEOGRAFIA E HISTÓRIA: Conteúdos e metodologias na Educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, uma atividade envolvendo o conceito de Lugar de Memória, formulado pelo historiador Pierre Nora , segundo o qual: “Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não existe memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter os aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas,  porque essas operações não são naturais. É por isso a defesa, pelas minorias, de uma memória refugiada sobre focos privilegiados e enciumadamente guardados, nada mais faz do que levar à incandescência a verdade de todos os lugares de memória. […] Se vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam inúteis. E se, em compensação, a história não se apoderasse deles para deformá-los, transformá-los, sová-los e petrificá-los eles não se tornariam lugares de memória. É neste vai-e-vem que os constitui: momentos de história arrancados do movimento da história, mas que lhe são devolvidos. Não mais inteiramente a vida, nem mais inteiramente a morte, como as conchas na praia quando o mar se retira da memória viva.[1]


A partir de memórias pessoais e registros fotográficos feitos na cidade de Barão de Cocais (MG), a estudante formulou uma proposta de trabalho para as turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental (3 e 4º anos) envolvendo as reflexões sobre as mudanças que o tempo e os desastres ambientais podem imprimir nos lugares (paisagens) que conhecemos e como alguma destas alterações significativas alteram a vida de comunidades inteiras. O trabalho, em formato de uma roda de conversa, pode ser desdobrado em atividades variadas, que podem aprofundar a discussão nas aulas de História, Geografia e Ciências, além de contribuir para trabalhar as competências socioemocionais dispostas na BNCC, ao discutir temas como consciência ou autogestão (determinação, organização, foco, persistência e responsabilidade) e extroversão ou engajamento com os outros (iniciativa social, assertividade e entusiasmo).


ATIVIDADE SOBRE LUGARES DE MEMÓRIA:

  1. Iniciar uma roda de conversa e questionar aos alunos o que eles entendem sobre lugar e memória.
  2. Logo após, apresentar fotos de um determinado lugar (o escolhido pela professora foi a cidade de Barão de Cocais/ MG).
Crédito das Imagens: Maria Antônia Martins Abdala

4) Após observação das imagens, iniciar questionamentos e reflexões com os estudantes (alguns exemplos):

  • Vocês acham que esses lugares contém histórias?
  • Será que muitas pessoas já moraram neste lugar?
  • Seria possível contar a história destas pessoas, descrevendo o lugar que estamos vendo nas fotos?
  • Você conhece algum lugar parecido?
  • Esse local das fotos contém mais elementos urbanos ou elementos do campo?
  • Como você imagina que seria a vida de uma criança neste local?

5) Em seguida, contextualizar o local com a atual situação, onde as barragens de mineração estão ameaçando romper e levá-los a pensar como esses desastres ambientais interferem na história de alguém, no local que esta pessoa vive e quais as consequências destes desastres para toda a comunidade local.

6) Por fim, mostrar fotos do antes e depois do rompimento das barragens de mineração ocorridas nas cidades mineiras de Mariana e Brumadinho.

Abaixo segue uma amostra de imagens que poderiam ser utilizadas nesta etapa da atividade, mas outras imagens podem ser selecionadas pelo professor e utilizadas no intuito de aprofundar as discussão.

Pousada Nova Estância, localizada próxima a Mina do Feijão, onde a barragem se rompeu dia 25 de janeiro em Brumadinho:

Crédito das Imagens: Google Imagens


Distrito de Bento Rodrigues antes e depois do rompimento da barragem e Imagens do Satélite mostrando antes e depois do distrito de Bento Rodrigues

Crédito das Imagens: Google Imagens

[1] NORRA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos lugares. Projeto História. Revista do programa de estudos pós-graduados de História. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index. php/revph/article/view/12101. Acesso em 10/05/2019.


Diferentes cenários urbanos em BH: Morro do Papagaio e Bairro Santa Lúcia

As estudantes Aline Ferreira e Souza e Cristiane do Carmo Silva Caetano (Pedagogia/ UEMG/FaE, campus BH) produziram como reflexão final da atividade da disciplina GEOGRAFIA E HISTÓRIA: Conteúdos e metodologias na Educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, um texto sobre os diferentes cenários urbanos que encontram cotidianamente na cidade de Belo Horizonte, MG.

Em geografia lugar refere-se ao espaço em que vivemos, conhecemos e trabalhamos. Todo lugar tem sua história. Os vários lugares que frequentamos, convivemos ou passamos, possibilitam oportunidades de conhecer novas pessoas, a convivência pode reforçar a ligação com o lugar que vivemos, podendo reforçar o quanto alguns lugares são importantes para nós. Nós conhecemos na faculdade e descobrimos algumas coisas em comum, como o trajeto da faculdade para casa, ao recebermos a proposta do presente trabalho pensamos no nosso trajeto e no que poderíamos tirar dele.

Foto tirada em 01 de junho de 2019. Crédito: Aline Ferreira e Souza e Cristiane do Carmo Silva Caetano

De uma importante avenida de nome Nossa Senhora do Carmo, podemos observar a zona sul de Belo Horizonte, de um lado temos o Morro do Papagaio, localizada em uma área montanhosa, com uma sensação térmica de até 3 graus a menos do que as regiões mais baixas da cidade. Como uma população aproximada de 16.900 habitantes e 3.848 residências, o Morro do Papagaio fica próximo a região central e a bairros nobres de Belo Horizonte como, Santa Lúcia, Belvedere e Santo Antônio, é um dos maiores aglomerados de Belo Horizonte. Historicamente o morro foi formado pela junção de 4 favelas. Toda região faz limite com áreas planejadas da cidade, sendo chamado de “favela mais nobre da cidade”, está rodeada por bairros de classe alta e gera uma intensa especulação imobiliária.

Foto tirada em 01 de junho de 2019. Crédito: Aline Ferreira e Souza e Cristiane do Carmo Silva Caetano

O bairro Santa Lúcia região nobre de Belo Horizonte, se destaca a beleza da barragem que lá possui, suas casas, mansões e prédios residenciais. O bairro é marcado também pela modernidade arquitetônica. A barragem oferece qualidade de vida, com pista para corrida e espaço para lazer. No bairro Santa Lúcia encontramos o Edifício Panorama, onde fica o consulado americano, uma variedade enorme de comércio, com supermercados, farmácias, agências bancárias, shopping, postos de gasolina, sendo que o morador encontra tudo o que precisa sem precisar ir muito longe. Nele era situado a ex-Colônia Afonso Pena. Hoje o bairro tem uma população aproximada de 7.300 moradores. O bairro teve inicio na década de 70 e nele passa importantes avenidas como Prudente de Morais e Raja Gabaglia.

Quando nós observamos e conhecemos melhor os lugares, compreendemos melhor a realidade que nos cerca. No nosso trajeto da faculdade para casa, paramos na avenida Nossa Senhora do Carmo para fotografar e observar, podemos perceber uma grande desigualdade social, a discrepância é percebida por todos que quiserem ali parar, as diferenças estruturais, como as casas, a quantidade de árvores e o planejamento das ruas é visto sem precisar de muito esforço.

Parque Municipal Américo Renné Giannetti: Novos Olhares

Fotos: Rogéria Cristina Alves

Localizado na região central de Belo Horizonte, foi inaugurado em 26 de Setembro de 1897, antes mesmo da inauguração nova capital mineira. É o patrimônio ambiental mais antigo de Belo Horizonte e foi projetado no final do século XIX pela comissão construtora encarregada de planejar a nova capital de Minas Gerais. Possui uma área de 182 mil metros quadrados de extensa vegetação. Abriga o Teatro Francisco Nunes, Orquidário, um pequeno parque de diversões e a parte dos fundos do Palácio das Artes.
Após 111 anos de sua implantação, o parque forma hoje um ecossistema representativo com árvores centenárias e ampla diversidade de espécies. Possui diversas nascentes que abastecem três lagoas e cerca de 280 espécies de árvores exóticas e nativas, como: figueiras, jaqueiras, cipreste-calvo, flamboyant, eucalipto, sapucaia, pau-mulato e pau-rei. O espaço também abriga mais de 100 espécies de aves entre bem-te-vis, sabiás, garças, periquitos, pica-paus, sanhaços, saíras e outros animais, como gambás e micos. É um verdadeiro refúgio para a fauna silvestre.
O Parque Municipal Américo Renné Giannetti foi projetado em estilo romântico inglês, pelo arquiteto paisagista francês, Paul Villon, para ser o maior e mais bonito parque urbano da América Latina.  Antes de sua implantação, o espaço abrigava a Chácara do Sr. Guilherme Vaz de Mello, conhecida como Chácara do Sapo. O local serviu de moradia para o próprio Paul Villon e para Aarão Reis, engenheiro chefe da Comissão Construtora, encarregada de planejar e construir a nova capital de Minas Gerais. Em 1924, o governador do Estado Olegário Maciel transfere a residência oficial para o Parque Municipal, até o final de sua gestão.
O parque possuía, originalmente, uma área de 600 mil metros quadrados, A partir de 1905, inicia-se o processo de perda de espaços para construções diversas e de sua área original, o parque chega ao século XXI com apenas 182 mil metros quadrados.

Fonte: http://www.belohorizonte.mg.gov.br

O que é a cidade?

A história não se escreve fora do espaço, e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo, é social. Milton Santos

A estudante Tânia Paula de Jesus Cassimiro (Pedagogia/UEMG-FaE Campus BH), elaborou reflexões e imagens muito interessantes sobre o “ver e olhar” a cidade, como trabalho final da disciplina GEOGRAFIA E HISTÓRIA: Conteúdos e metodologias na Educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Confiram!

Crédito da Imagem: Tânia Paula de Jesus Cassimiro, BH

1º. Momento: Fotos tiradas com o celular de dentro do ônibus em movimento. Trajeto Cristiano Machado- Bairro Floramar regiões Norte a região centro Sul- Alfredo Balena.

2º. Momento: Construindo narrativas com a arte – fotos do quarteirão Aarão Reis- Centro de BH.  (Arte e invisibilidade)

 O QUE É A CIDADE?

Na cidade os espaços se multiplicam, mudam suas configurações. O que antes tinha uma utilização, num curto espaço de tempo pode se modificar. Outdoors, cartazes, pinturas, desenhos em meio a lojas, edifícios e área verde: passado e presente. No decorrer do trajeto outras situações foram chamando a minha atenção como a invisibilidade do ser humano.  Os processos de higienização ocorridos em alguns trechos como Bairro São Paulo e Primeiro de Maio para a construção da Linha Verde. Tal obra extinguiu as favelas, ali existentes, como a do Vietnã, Matadouro entre outras. A ideia era no lugar criar um corredor verde até o aeroporto de Confins. Ao falar de cidade o que vemos é que o pertencer também ocorre de formas distintas. A invisibilidade social é o cenário em que se encontram alguns cidadãos

https://www.youtube.com/watch?v=lmXCBTOpM9w&feature=share

Visíveis ou invisíveis?

Para refletir sobre os espaços da cidade, Tânia elaborou um vídeo com imagens que registrou e com a reflexão abaixo.

É a natureza podada quase morta, luta para permanece ali, mas não sabemos até quando.

Que narrativa a arte traz sobre os espaços subdivididos da cidade?

A condição do eu e do outro. E a arte sobrevivendo a tudo isso vem dizendo o que somos na verdadeira história que ninguém contou…Os espaços se configuram pelas relações econômicas, sociais, de classe, pela discriminação, pelo preconceito. A sociedade, sobretudo em áreas urbanas, vive a experiência do múltiplo, da diferença, da diversidade. Essa diversidade, sintetizada ou expressa na cultura dos sujeitos.

Referência: CAVALCANTI, L. de S. A geografia e a realidade escolar contemporânea: avanços, caminhos, alternativas. In: Anais do I Seminário Nacional: currículo em movimento – Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, 2010.